Essa semana estreou aquela novela das seis, “Orgulho e Paixao”, que tem a Nathalia Dill como protagonista e que foi inspirada no classico “Orgulho e preconceito” da autora britânica Jane Austen. Eu tive interesse em assistir a novela e tudo mais, apesar de eu não gostar tanto da literatura britânica. Acontece que eu estava mantendo meu interesse em ver a novela até assistir um videozinho dos atores a promovendo. Pensei que talvez eu estivesse com a famosa mania de perseguição ou o tal do mimimi que muitas pessoas gostam de falar.
Feminismo pra quem?
Mas a primeira coisa que me chamou atenção na novela, obviamente, é a escolha do elenco inteiro branco. As novelas brasileiras geralmente tem seu elenco 90% branco. Colocam um ator ou outro negro lá, porque né, “é a cota”. Isso sempre me chama minha atenção, uma vez que a maioria da população brasileira é uma população não branca. Não necessariamente negra, mas não branca.
Enfim, voltamos à novela orgulho e paixão. Nesse vídeo dos atores promovendo, eu achei interessante que muitas atrizes estavam felizes porque era uma novela “feminista”. Eu já fiquei pensando “feminista pra quem?”. Depois eu vi no twitter a galera aplaudindo a estreia da novela com o mesmo argumento “uma novela feminista” e eu volto a indagar: “feminista pra quem”? Uma novela só com pessoas brancas que não me representa nem um pouco. Não representa nem um pouco o feminismo que me inclui.
“Ah aretha, mas a obra foi inspirada no romance de Janeausten, que se passa na europa blablabla”. Beleza, foi inspirada. Eu acho um tanto quanto egoísta alguém fazer uma novela só com mulheres brancas e julgar essa novela FEMINISTA. Qual feminismo é esse que foi abordado? O meu feminismo que não é. Como já diria a rainha Sojourner Truth: “eu não sou uma mulher?”
Feminismo negro na vida real
Como estudante de letras, com o foco na literatura de língua inglesa, eu já vinha sentindo esse incomodo da academia há tempos. Em uma matéria que tinha a intenção de ser “uma matéria feminista”, uma vez que chamava “literatura de escrita feminina” eu acho que a professora esqueceu de modificar o nome pra “literatura da escrita branca feminina”. Durante um semestre eu vi apenas 1 autora negra. Só a Alice Walker que estava na bibliografia e era uma autora negra.
A professora também colocou o discurso de Sojourner Truth, mas Sojourner Truth não era de fato uma escritora. E nessa época eu fiquei pensando “ué, não tem autoras negras do século 14 ao 19 no mundo não?”. Depois em um outra matéria ofertada pelo meu orientador (amém, meu orientador) que eu conheci aos poucos mais autores e autoras negras na literatura. Uma coisa que é quase invisibilizada na faculdade de letras. Os professores costumavam (coloco o verbo no passado, porque lentamente as coisas estão mudando) a colocar nas bibliografias apenas autores brancos. Isso quando não eram autores homens brancos. Ou seja quase não existia mulher nem branca nem negra.
Auge do feminismo pra quem?
O que eu quero dizer com esse texto é que para considerar essa novela O AUGE DO FEMINISMO, as pessoas devem pensar “pra quem exatamente é esse feminismo?”. Outro dia eu fui obrigada a ler no twitter uma menina dizendo que na época da escravidão, mulheres negras tinham O DIREITO de trabalhar. Coisa que as mulheres brancas não tinham. Escravidão agora virou direito. Ela esqueceu de falar que mulheres negras também tinham o direito de serem estupradas. O direito de apanharem. O direito de varias coisas que as mulheres brancas eram poupadas na época.
Eu não to aqui nesse texto com a intenção de criar um abismo no feminismo entre mulheres brancas versus mulheres negras. mas eu acho que as pessoas em geral, precisam ter mais noção de verem que o mundo não se resume apenas a pessoas brancas. Que quando uma obra da Jane Austen é considerada um avanço no feminismo, esse feminismo não inclui todas as mulheres do mundo. Muito pelo contrario. E eu volto ao discurso de Sojourner Truth que indaga “eu nao sou uma mulher” quando numa conferência realizada em Ohio em 1851, varias mulheres lutavam pelos direitos feministas, direitos esses que mulheres negras nem sonhavam em ter. Então “eu não sou uma mulher?”