Ainda não tenho meu próprio apartamento. Estou longe de começar a pensar em casar. Ter filhos então nem passa na minha mente por agora. Estou atrasada nas minhas duas faculdades, tive que trancar algumas matérias para conseguir conciliar emprego e aula. Não levo uma vida fitness. Mal consigo tempo para lanchar na parte da tarde e acabo comendo qualquer besteira que estiver ao meu alcance. Mesmo com apenas 22 anos, posso garantir que a pressão para conquistar tudo aos vinte e poucos e me afeta todos os dias.
Aparentemente o que aprendi com a vida nesses 22 anos é que ela funciona como uma lista de tarefas pré definidas para alcançar algo. Seria felicidade? Sucesso? Não sei dizer. Sei que essa lista já moldada pela sociedade é um saco. A sequencia de tópicos a ser seguida é irritante. Já formou na faculdade? Já tem um emprego estável? Você consegue poupar dinheiro? Arrumou um namorado(a)? E o casamento, quando sai? Vai querer ter filhos? Quantos? Me sinto eternamente pressionada a conquistar coisas que nem eu mesma sei se eu quero. Nem sei se me farão felizes.
Já pensou se ao invés desse questionário mega elaborado, as pessoas te perguntassem se você está feliz?
Um dia desses me peguei dividindo minhas tarefas diárias e confesso que deu vontade de voltar a ser criança. São 8:40h de trabalho em uma empresa no centro. Minha área? Sim! Amo de paixão o que eu faço. Porém, moro em uma casa relativamente longe do meu trabalho. São 1:30h pra ir e 1:30h para voltar. Sim, 3h dentro de uma lata de sardinha chamada Move. Somei essas 11:40h com mais 1h que eu levo para me arrumar para o meu dia, com minhas 4:00 de aula de marketing, com minhas 2h de produção de conteúdo para o blog, com pelo menos 1h para me dedicar à uma vida saudável, com mais 2h para socializar com família e amigos, com 8h de sono. Ao final, percebi que meu dia deveria ter, no mínimo, 29h.
Não há brecha para a felicidade de verdade. Para a cervejinha com os amigos, para colocar as séries em dia, para me curtir. Confesso que ri de nervoso para não chorar quando terminei de colocar na balança o tempo que estava me dedicando para buscar preencher as lacunas dessa lista e deixando de lado coisas que eu realmente gosto. Me senti completamente limitada dentro de um contexto que não é meu. Se eu vou formar? Não sei. Se tenho um emprego? Sim. Estável? Talvez. Consigo poupar dinheiro? Nem. Já arrumei um namorado? Aham. E o casamento? E os filhos? E a sua vida?
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Dai pularemos direto para a conclusão que tirei depois de muito pensar sobre isso: não sou obrigada. Escolhi não seguir esse manual de como viver e fazer da minha vida o que eu realmente estiver com vontade. Isso significa ignorar o emprego e os boletos acumulando? Não. Mas significa levar todas essas tarefas de uma forma mais leve, mesclando com o que eu realmente gosto para que eu não entre em colapso e não deixe de lado o que realmente importa pra mim: a felicidade.
Precisei me desacelerar para perceber que para buscar o que eu realmente quero, não preciso preencher lacunas. Preciso apenas de me cuidar, de me permitir fazer coisas agradáveis, me dedicar à mim mesma e à quem eu amo. Não quero que essa seja uma nova fórmula de viver aos vinte e poucos. Quero apenas viver sem precisar me preocupar se estou vivendo certo ou errado. Até agora tudo está correndo bem, melhor do que antes. Deixo aqui registrado esse meu desabafo para garantir que continuarei sem manual de vida.