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Tranças e representatividade negra

18 jun 2017 • por Aretha Soyombo • 57 Comentários
Você já parou pra refletir na relação entre tranças e representatividade negra?

Há umas semanas uma colega minha que faz jornalismo pediu para fazer uma “entrevista” comigo para que eu falasse sobre minhas tranças. Enfim, durante as perguntas que ela me fez, houveram algumas que eu nunca tinha parado pra refletir, por exemplo: “o que as tranças significavam pra mim” ou “por quê eu comecei a usar?”

Meus cabelos na infância:

Eu uso tranças desde que eu tinha uns 2 anos. E segundo minha mãe eu quis fazer quando era criança porque era um “cabelo que mexia” como eu já disse em outro texto, meu cabelo é 4C. Para quem não sabe, é o tipo de cabelo mais crespo que tem, então, por conta disso, meu cabelo não tinha aquele balanço, aquele movimento que eu via na televisão. Sendo assim, para atender as minhas vontades infantis da época, minha mãe que começou a fazer as nossas trancas. Nossas que eu digo, minha e da minha irmã. E foi assim ate 2014, quando eu tinha 18 anos.

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Um dos motivos para eu ter começado a usar tranças foi porque era o tipo de cabelo que mais se adequava aos padrões. Por exemplo, eu poderia amarrar e fazer um “rabo de cavalo” eu podia “balançar” meu cabelo. Então era um penteado que me fazia não me sentir tão “fora da curva”

Mudanças na faculdade:

Até eu entrar para faculdade eu não saia na rua, nem na sacada da minha casa com o meu black. Era uma coisa totalmente fora de cogitação. E eu lembro que quando minhas tias e meus primos elogiavam meu cabelo natural eu ficava muito brava porque acreditava que eles estavam mentindo para mim. Eu pensava que não tinha como meu cabelo natural ser mais bonito que minhas trancas. Na escola, muitas vezes, me zoavam falando que era cabelo de plástico, cabelo falso etc. O que de fato não é uma mentira, mas com 8, 9 anos ouvir isso mexia um pouco comigo. No entanto, ainda preferia aparecer na rua com meu cabelo de plástico do que meu cabelo natural.

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Assim minha vida seguiu, sendo “escrava” da trança ate meus 18 anos. Minha mãe que fazia, como eu já disse antes, então depois de um tempo, conhecendo as boxes braidseu comecei a achar que as trancas feitas pela minha mãe tinham um aspecto que me deixava muito com cara de criança. E foi quando eu comecei a ver as boxes braids em mais mulheres que estavam a minha volta, e então eu fiz trancas pela primeira vez no salão.

E o meu black?

Durante o período de abril a agosto de 2014, que eu decidi parar de trançar com a minha mãe e fazer no salão vivi 100% de black. Por um lado foi bom, porque pela primeira vez comecei a me sentir mais bonita com meu cabelo natural, mas por outro foi um saco, porque demanda MUITO tempo e paciencia pra cuidar. E como eu nunca tinha sido criada PRA SABER cuidar de um black, uma vez que eu emendava uma tranca na outra e quase não ficava sem, eu simplesmente me cansei, e me atrapalhava toda pra cuidar.

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Ainda uso tranças?

Hoje eu ainda uso tranças. Primeiramente por ser muito mais prático, e porque eu não tenho paciência pra cuidar do meu blackpower. Eu tenho uma amiga que já usou tranças, mas hoje ela usa o black dela. Ela sabe cuidar muito bem, faz vários penteados. Eu admiro a paciência dela. Quando a vejo eu tenho vontade de usar meu black pra sempre. Mas ai na mesma mão que a vontade vem, eu lembro que sou levemente preguiçosa demais pra cuidar o tempo todo do meu cabelo. Um lado positivo de usar trancas é que eu sempre posso mudar o comprimento, a cor, e variar de acordo com o que eu quero.

Muitas pessoas já me perguntaram porque eu não faço trancas coloridas. Eu não acho que ficaria bom em mim, mas nunca tentei, quem sabe um dia? Eu já fiz mais longas, quase batendo na cintura, já fiz com mexas loiras, já fiz na altura do ombro, e agora eu estou usando acima do ombro. Algo meio “long bob”. Eu fiquei receosa de mudar. Mas se não desse certo, em dois meses eu poderia voltar com o que eu estava acostumada.

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Já perdi as contas de quantas vezes eu respondi perguntas como “e você pode lavar normal?”ou “como você lava?”. Eu lavo assim como qualquer pessoa, com shampoo e condicionador. Mas no inicio, assim que eu termino de fazer as trancas eu não uso condicionador. Ele ajuda as trancas envelhecerem mais rápido. Para secar, eu costumo usar a toalha pra atirar o excesso de agua. Depois uso secador ou deixo secar com o tempo, se estiver fazendo muito calor.

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Às vezes eu gosto de ficar umas semanas com meu black para o meu cabelo “respirar” um pouco. Mas há praticamente 19 anos fazendo tranças, meu cabelo nunca quebrou. Nunca aconteceu algo ruim por conta de trançá-lo constantemente.

representatividade negra

As tranças me representam e fazem parte de mim. Fazem parte do meu empoderamento enquanto mulher negra e eu me identifico muito com elas. Diferente do que muitas pessoas pensam, eu não comecei a usar por modismo. Eu uso desde sempre, pela praticidade que ela me proporciona. Infelizmente, ainda não consigo me sentir tão à vontade sem tranças do que com elas. Mas isso é algo que pode, ou não, mudar ao longo do tempo.

Ps: muitas pessoas ja me perguntaram quem faz minhas tranças, e a responsável por isso é a Jennifer Mello. Ela me atende em casa.

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